Meus trabalhos e experiências no curso de História da Arte na UFRGS

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Questão sobre O Homem de Areia de Hoffman


Um medo profundamente romântico é o medo dos poderes misteriosos do cientista/alquimista, explorado, por exemplo, em Frankenstein, de Mary Shelley. Pensando agora em O homem da areia, de que modo esse medo se configura na relação entre Natanael e Coppelius/Coppola?

Coppelius além de advogado, era alquimista. Ele ia várias noites na casa do pai de Natanael para juntos praticarem experimentos alquimicos secretos. Por isso, o pai de Natanael sempre mandava seus filhos deitarem cedo, dizendo que naquela noite o homem de areia iria chegar. Natanael, após ouvir da empregada que o tal homem de areia era um monstro que arrancava os olhos das crianças, um dia decide se esconder no gabinete de seu pai para descobrir a verdade. Nessa noite ele vê os tais experimentos secretos de alquimia. Quando Coppelius descobre que foi visto diz que vai arrancar os olhos dele, fato que faz Natanel desmaiar e ter o maior susto de sua vida, mesmo que no fim seus olhos não tivessem sido arrancados realmente arrancados. Entretanto, as visitas de Coppelius não cessaram depois desse fato, e na última visita, um acidente envolvendo uma explosão durante os experimentos causam a morte do pai da Natanael.

Esse trauma, mesmo que na visão de sua mulher, Clara, fosse apenas um medo irracional, nunca desapareceu de sua mente. Natanael volta a sentir esse terror ao ver no vendedor de barometros Coppola o mesmo rosto de Coppelius. Mesmo tentando se convencer que seu medo era irracional, o desenrolar da história o leva a completa loucura.
Ou seja, o medo profundamente romântico dos poderes misteriosos da alquimia é retratado na pessoa que o protagonista mais teme, mostrando essa relação de medo que a alquimia causava.

Questão sobre a abertura do palácio de cristal, de Ruskin

No próprio título de seu ensaio Ruskin deixa claro que pretende especular sobre o futuro da arte em geral a partir do Palácio de Cristal londrino. Segundo Ruskin, quais são as potenciais consequências dessa transformação arquitetônica representada pelo Palácio de Cristal? 

Embora o palácio de Cristal londrino seja ovacionado pelo público e pela crítica de seu tempo, para Ruskin, ele não merece esse reconhecimento se pensarmos em arte no seu sentido mais estrito. Ruskin considera o Palácio de Cristal apenas uma grande obra do ponto de vista da engenhosidade mecânica. E a engenhosidade mecância não é a essência nem da pintura, nem da arquitetura. Nas suas próprias palavras: 
"Que não se pense que eu queira depreciar (onde seja possível depreciar) a engenhosidade mecânica que foi demonstrada na ereção do Palácio de Cristal, ou que eu subestime o efeito que sua imensidão vastidão pode continuar a produzir na imaginação popular. Mas a engenhosidade mecânica não é a essência nem da pintura, nem da arquitetura, e a grandeza da dimensão não necessariamente envolve nobreza de design. Seguramente se requer tanta engenhosidade para construir tanto uma fragata, ou uma ponte tubular, quanto uma sala de vidro; todas essas são obras características da época; e todas, em suas diversas maneiras, merecem nossa mais alta admiração, mas não a admiração do tipo que é dedicada à poesia ou à arte".

Entretanto, o mais grave para Ruskin é o fato de obras novas, grandes e imponentes como o Palácio de Cristal incentivarem as pessoas esquecerem das antigas. Segundo ele, muitas obras do passado estão apodrecendo ou mesmo sendo sumariamente destruídas em prol dessa nova arquitetura. As que não são demolidas ou esquecidas, quando restauradas, são restauradas erroneamente, com diversas partes substituídas por cópias em vez de preservar o original tanto quanto possível. Nas palavras de Ruskin:
"… naquele mesmo ano, eu disse, as maiores pinturas dos mestres venezianos estavam apodrecendo em Veneza na chuva, por falta de teto que as protegesse, com buracos feitos por tiro de canhão através de suas telas. Há outro fato, no entanto, mais curioso do que qualquer um desses, que será a partir deste momento ligado à história do palácio que está sendo construído agora; a saber, o de que no mesmo período em que a Europa se congratula pela invenção de um novo estilo de arquitetura, porque quatorze acres de terra foram cobertos com vidro, os maiores exemplos existentes da verdadeira e nobre arquitetura cristã estão sendo resolutamente destruídos; e destruídos por efeito do mesmo interesse que começou a ser despertado por eles".

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Questão sobre o projeto de declaração dos direitos do homem e do cidadão de Robespierre

A Declaração dos Direitos do Homem teve, sem dúvida, tremendo impacto no imaginário revolucionário. No entanto, não tardariam as críticas à forte defesa da propriedade privada que ela endossa. Robespierre se alinha entre os críticos, como podemos ver no texto lido. Quais são seus argumentos? Que modificações ele propõe na Declaração com relação especificamente a esse tema?

De acordo com Robespierre, "a extrema desproporção das fortunas é a origem de muitos males e muitos crimes". E é ai que reside o principal problema da declaração dos direitos do Homem, pois ela não trata da questão da propriedade privada e distribuição de renda. A propriedade privada, para Robespierre, não gera principio algum de moral, excluindo todas as noções de justo e injusto.
A declaração dos direitos do Homem do modo como foi lançada, ignorando essa questão, permitia que uma pessoa fosse extremamente rica as custas da pobreza de muitas outras. Por isso, ele diz "vossa declaração parece feita não para os homens, mas para os ricos, para os açambadores, os agiotas e os tiranos".

A proposta de alteração foi consagrar que o direito de propriedade é limitado, como todos os outros, pela obrigação de respeitar os direitos do próximo, sem prejudicar a segurança, a liberdade, a existência nem a propriedade dos semelhantes.
Além disso, impostos devem ser cobrados progressivamente, de acordo com a riqueza de modo que não ocorram injustiças sociais.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Questão sobre Moll Flanders de Daniel Defoe


A certa altura de Moll Flanders a narradora e protagonista apresenta sua aparentemente sossegada vida de casada na América. No entanto, algo ocorre que muda sua tranquila situação. O que houve? Como Moll Flanders reage a esse giro abrupto da "roda da fortuna"? Justifique sua resposta com o comentário de algumas passagens do texto.

Moll Flanders estava em uma situação em que necessitava de dinheiro. Entretanto, sua única opção naquela altura era se casar com alguém que tivesse posses. Entretanto, Moll Flanders não era interessante para os homens da época pois
"Em resumo", diziam eles, "a viúva não tem dinheiro".

Por isso, a protagonista resolveu se mudar para um lugar em que não fosse conhecida:

"Por isso eu resolvi, no estado em que me achava, mudar de condição e ir para um outro lugar onde não era conhecida, e arrumar um outro nome, se tivesse oportunidade".

Moll Flanders com ajuda de uma amiga, se passou por sua prima e conseguiu alcançar seu intento de se casar com um homem que não era muito rico, mas que tinha algum dinheiro e realmente gostava dela. Moll teve 2 filhos com seu marido e quando estava grávida do terceiro, ocorreu o grande giro da sua "roda da fortuna" Ao conhecer sua sogra e ouvir sua história, Moll Flanders se deu conta que ela na verdade era sua mãe, e o homem com o qual estava casada era seu irmão:


"Alguém poderá avaliar a angústia de meu espírito quando cheguei a concluir que esta mulher era, nem mais nem menos, minha própria mãe. E eu tinha agora dois filhos e esperava um terceiro de meu próprio irmão, com quem dormia toda noite!"

Esse grande infortúnio fez Moll ir da alegria de uma casamento bem sucedido a mais infeliz das mulheres:

"Sentia-me a mais infeliz de todas as mulheres do mundo. Oh! Se esta história não tivesse sido jamais contada! Tudo teria sido tão bom! Não teria sabido do crime de deitar-me com meu marido, pois não saberia que era meu irmão".

Por causa disso, Moll mudou sua conduta com seu marido:

"Tivemos muitas brigas em família por causa disso, o que, com o tempo, começaram a ficar perigosas. Como perdera toda a afeição por meu marido (como o chamava), não media as minhas palavras e usava, por vezes, uma linguagem provocatória. Em suma, eu fazia todos os esforços para levá-lo a separar-se de mim, o que era a coisa que mais queria".

No fim, Moll acabou contando do fato para seu irmão, desse modo, ela partiu para Inglaterra para que seu irmão pudesse dizer aos outros que ela tinha morrido e assim ele poderia se casar de novo.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Questão sobre O livro da vida, de Santa Teresa D'avila

Santa Teresa compôs um livro que até hoje é usada por muitos como guia espiritual. Nele ela escolhe as palavras para tentar descrever toda a força de sua experiência religiosa. No trecho lido, como se poderia definir e caracterizar essa experiência? 

Embora dedicasse sua vida a igreja, Santa Teresa dizia que sua alma estava cansada e considerava que tinha maus habitos em relacao a sua religiosidade. Entretanto, ao poucos, foi entendendo melhor como vivenciar melhor sua vida religiosa. Santa Teresa menciona que leu "As confissoes de Santo Agostinho" e se identificou muito com o autor pois tambem se via como uma pecadora.


Nesse caminho de entendimento, ela conta as experiencias espirituais intensas pela qual passou que a transformaram. Por exemplo, logo no comeco do livro, Santa Teresa conta da vez que viu uma imagem de Cristo tomado de Chagas. Essa imagem ficou marcada em sua mente e deixou mais claro para ela o que Cristo passou por nos. Ela descreve essa experiencia com frases bastante fortes: "(..) me pertubei toda de ve-lo assim, porque representava bem o que passou por nos. Foi tanto o que senti do mal que havia agradeciado aquelas chagas, que meu coracao parecia que ia quebrarJoguei me junto a ele com enorme derramar de lagrimas, suplicando-lhe que me fortalecesse de uma vez para nao mais o ofender".

Ou seja, sua experiencia relatada no livro pode ser definida como transformadora (assim como a de Santo Agostinho), pois a levou a entender melhor o seu lado religioso, a ver mais clarmente o que Cristo passou, de modo que fosse um pouco menos dificil se livrar das tentacoes diarias e viver uma vida que ela considerasse menos pecaminosa.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Questão sobre O ensaiador de Galileu Galilei

Suponhamos que, em uma noite de céu estrelado e sem nuvens, Galileu Galilei quisesse reunir alguns amigos em sua casa para observar, com seus magníficos telescópios, os astros. Depois de ler O Ensaiador, sabemos que ele dificilmente convidaria, para um evento assim, Lotário Sarsi. Por quê? Comente as críticas de Galileu a Sarsi, apresentando alguns exemplos.

Em o ensaiador, Galileu inicia o texto falando como se decepcionou ao ver que suas descobertas cientificas, em vez de "ser do agrado de todos os verdadeiros apaixonados da verdadeira filosofia", acabou "(...) encontrando em muitas pessoas uma certa animosidade em diminuir, defraudar e desprezar".

Ao longo do texto, muitos desses detratores sao mencionados, e entre eles, Lotario Sarsi. Essa inimizade surgiu quando Lotario Sarsi atribui a Galileu uma obra que na verdade era de um amigo: "Permanecer calado nao me ofereceu vantagem alguma, pois meus inimigos, tao desejosos de me atrapalhar, chegaram a atribuir-me as obras dos outros escritores;e, tendo-me atacado a base destes textos, chegaram a fazer coisas que, a meu parecer, pertencem claramente a animos fanaticos e sem raciocinio. E porque nao pode o sr Mario Guiducci, por causa de seu oficio, discutir em sua Academia e depois publicar seu Discurso sobre os cometas, sem que Lotario Sarsi, pessoa completamente desconhecida, tivesse se voltado contra mim, e sem respeito algum por este gentil-homem, me considerar autor daquele discurso".


Alem disso, Galileu chama Sarsi de covarde pois ele nao tem coragem de fazer suas criticas cara a cara:
"Como é de costume em muitas cidades italianas , de poder falar livremente de qualquer coisa com qualquer um, achando extremamente divertido que alguem, seja quem for, possa com eles discutir sem respeito e ironiza-los. E a este segundo grupo deve pertencer, acredito eu, aquele que se esconde sob a mascara de Lotario Sarsi (pois, se pertencesse ao primeiro grupo, pouco lhe agradaria ter querido jogar tao forte), e acredito tambem que, assim como as escondidas ele resolveu falar contra mim poque cara a cara ele provavelmente teria se recusado.

Galileu tambem critica a falta de metodo cientifico na obra de Sarsi. Para Galileu, Sarsi tenta ludibriar os leitores afim de provar suas teorias: (...) é aqui que eu percebo como Sarsi comeca, o mais cedo possivel, a transformar com enorme liberalidade as coisas (estilo que ele manteve em todo o seu trabalho) para acomoda-las a sua finalidade. (...) afirma sem base alguma que o cometa nasceu (...).

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Questão sobre os Contos Aretinos de Pietro Aretino

Sobre os sonetos contidos neste livro literalmente "maldito", escreve José Paulo Paes, tradutor da edição brasileira que acabamos de ler, o seguinte: "Neste sentido, quer pela crueza da linguagem, quer pela carnalidade de sua temática, os sonetos aretinianos podem ser considerados o avesso da poesia culta de sua época, a qual [...] recebera de Dante e de Petrarca o gosto pela divinização da mulher [...]" (PAES, José Paulo. Uma retórica do orgasmo. In: ARETINO, Pietro. Sonetos Luxuriosos. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 32-33). Desenvolva, através de comentários próprios e de exemplos tirados dos sonetos de Aretino, essa hipótese apresentada por Paes. 

Embora a estrutura do texto e suas rimas se assemelhem a um texto culto, os termos baixos e a própria temática o tornam o avesso do que se espera de da literatura culta.

Ao contrário de seus compatriotas Petrarca e Dante, que divinizam a mulher, Aretino carnaliza a mulher, fala de seu lado sexual, com seu vocabulário cru, forte e direto.

Pietro Aretino

Desnecessário mencionar exemplos de trechos assim pois os termos de baixo calão permeiam todo o texto. Mas menciono dois trecho em que o autor ao seu modo carnalizante, elogia o feminino (claro que nao do modo divinizante de Petrarca e Dante).

Abre as coxas a fim de eu poder bem
Ver-te da cona e cu o belo viso.
Cu de fazer completo o paraíso!
Cone que poe-me o sangue num vaivém!

Outro trecho:

Fodamos, meu amor, fodamos presto.
Pois foi para foder que se nasceu,
E se amas o caralho, a cona amo eu;
Sem isto, fora o mundo bem molesto.